Tristeza paga dívidas?

Sim, essa é mais uma história de ônibus!

É incrível a quantidade de coisas que me acontecem quando estou no ônibus! 

Hoje eu estava sentada, devaneando coisas tristes (por causa de algumas coisas bobas), quando entrou uma senhora no ônibus. Ela estava segurando uma bolsa e uma sacola de supermercado bem pesada. Eu já ia me levantando para dar o lugar à ela - já que as pessoas que estavam no assento preferencial, talvez pelo fato de ela ter entrado pela porta de trás, não levantaram ao vê-la. Ela adiantou-se, dizendo "Não, não! Eu tomo caldo de mocotó." Minha primeira reação foi rir, e depois disse à ela: "Quer que eu segure a bolsa, pelo menos?" Mas ela continuou a falar e eu sem entender quase nada. "Quando eu tinha a sua idade, eu via os velhos e os achava muito tristes. Mas, de quê adianta ser triste, não é? Tristeza paga dívidas? Eu não!" Ela não parava de falar e isso tudo me fez rir bastante. "... sou boa em matemática..." E começou a dizer a tabuada de não sei qual número. "Acertei? Ainda sou boa? Se não, me diz que eu paro." Só consegui responder: "Não pára, não. Tá certo." 

De repente ela gritou, dizendo para o motorista deixá-la no próximo ponto. E eu fiquei lá, sorrindo como boba, pensando que aquela senhora estava mesmo certa. Dar asas à tristeza não faz bem a ninguém. Todos nós passamos por momentos ruins e acaba sendo difícil pensar positivo, mas a vida está aí. Ela não pára nas pausas que você acha que precisa para se recuperar. Ela passa! E rápido. 

Fico pensando se o meu encontro com aquela senhora não foi obra do destino... Eu estava triste - e, cá entre nós, isso era visível - mas, quando ela saiu, eu pensei bem. Enxerguei todos os motivos para não afundar naquele sentimento. Eu refleti. 

A tristeza não ajuda em nada. Ela só nos atrasa, nos destrói os sonhos, a juventude da alma. Tristeza não enche barriga, não preenche coração, não nos dá um atalho em caminhos difíceis. 

"Mas de quê adianta ser triste, não é? Tristeza paga dívidas?"

(Munique R. Novaes)