Em frente ao espelho, Camila já estava ficando desesperada.
Não conseguia achar nenhuma roupa bonita, seu cabelo não colaborava, os sapatos
que trouxera na mala não eram nada indicados para uma festa... Enfim. Nada
parecia dar certo e ela só tinha duas horas para tornar-se apresentável.
Quando Ronaldo contara, ao seu modo, para a mãe que Camila
iria com ele, a paz se restabeleceu na casa. Foi como se ele houvesse aberto as
portas para a alegria extrema. Tia Lúcia não parava de suspirar pelos cantos,
satisfeita, dizendo que eles iam redescobrir a afinidade que tinham na
infância. Camila sabia, tia Lúcia estava achando mesmo que, qualquer que fosse
o problema de seu filho, a garota podia consertar. E isso assustava a garota.
Após construir uma pilha enorme de roupas em cima da cama,
Camila decidiu vestir uma t-shirt clara, shorts jeans escuro com seu tênis
predileto. Para completar, uma jaqueta de couro preta. Sua mãe sempre dissera
que suas malas eram exageradas e seu pai ficava louco por ver que elas lotavam
o porta-malas de seu carro. Dessa vez ela teve a certeza que sempre fizera o
certo, do contrário, teria de sair como uma louca. Caprichou na maquiagem,
soltou seus cachos naturais e finalmente conseguiu sentir-se bem. Ouviu uma
batida na porta e se deu conta de que já estava 30 minutos atrasada.
- Desculpa, Ronaldo! Eu não me dei conta da hora!
- Relaxa, eu já me acostumei. Mulheres... Uau!
- O que foi?
- Nada... É que... – Calou-se por um momento. – Você está
muito bonita!
- Obrigada... – Camila corou.
- Então... vamos?
Quando Ronaldo andou em direção à garagem, Camila viu que
tia Lúcia estava mesmo muito animada. Ela nunca emprestaria seu carro para o
filho ir a uma festa. Dentro do carro o silêncio dominou por um bom tempo.
- Camila...
- Oi?
- Tenho uma coisa pra te contar... – Mantinha o olhar fixo
no caminho.
- Me conta.
- Não estamos indo exatamente para uma festa. – Deu uma
rápida espiada no rosto da garota.
- Estamos indo para onde então? – Ele conseguiu assustá-la.
- Bem... É uma festa, mas não é de nenhum amigo meu. É um
trabalho, digamos assim. – Camila manteve-se quieta. – Eu tenho uma banda e nós
vamos tocar nessa festa. Eu ia dizer pra você, sabe, mas eu achei melhor dizer
a caminho. Vai que você tenha um surto e conte tudo pra minha mãe... – Ronaldo
começou a falar rápido e a garota não conseguiu entender metade.
- Tudo bem. – Ela interrompeu.
- Mesmo?
- Sim. – E retomaram o silêncio.
Depois de tanto silêncio, a garota sentiu um grande alívio
ao ver que Ronaldo estava estacionando em frente a um lugar muito barulhento.
-Bom, chegamos. – Ele disse.
Desceram do carro e logo foram abordados por um grupo de
jovens.
- Aí está você! Já estávamos pensando que não viria...
Nossa! Essa é a sua prima? – Os garotos tagarelavam sem parar.
- Pessoal, essa é a Camila.
- Oi, Camila! Seja muito bem vinda! – Disse um dos garotos,
com um sorriso que a fez ficar ainda mais sem graça.
- Obrigada.
- Alguém viu a Débora? – Perguntou Ronaldo olhando ao redor.
- É... então, cara. Eu tenho que te falar uma coisa. Em
particular... – Disse outro garoto um pouco desconcertado.
- Mas estamos atrasados, Rafael. Temos que entrar logo.
- Vai ser rápido, eu prometo. A Camila vai ficar bem com os
meninos. – Insistiu, Rafael.
- Eu cuido bem dela, cara. Fica tranquilo. – Disse o outro
garoto, com malícia.
- Ok. Mas olha lá, hein. Sem gracinhas com ela. – Ronaldo se
rendeu.
Ele e Rafael foram caminhando para uma parte mais calma
antes da entrada e Camila ficou pensando como se comportaria na presença de
quatro garotos desconhecidos.
- Vamos entrar pessoal? – Propôs um deles. – Seu primo nem
nos apresentou direito, Camila. Jugando pelo comportamento do Marcos você deve
estar com medo de nós. – Brincou ele.
- Não, não. Imagina – Camila sorriu encabulada.
- Como eu disse, esse demente é o Marcos, esses são Lucas e
Alexandre e eu sou o Mateus.
Camila se sentiu mais segura com a atitude de Mateus. E
depois de um tempo, já dentro da festa, passou a sentir-se confortável com os
amigos de seu primo. Enquanto conversavam e riam, Camila percebeu que os
garotos constantemente olhavam para o outro lado do salão. Isso a deixava muito
curiosa.
- Acho que temos que ir ajeitando o palco. Daqui a pouco
entramos. Até mais, Camila. – Disse Alexandre.
Os garotos se despediram, menos Mateus.
- Você não vai se preparar também? – Indagou Camila.
- Eu não toco na banda. Eu sou o empresário deles. –
Respondeu rindo.
A conversa fluía muito bem com Mateus, mas a garota não
conseguia parar de imaginar o que Rafael havia de tão importante para falar com
seu primo. Ela não pôde segurar a curiosidade.
- Aconteceu alguma coisa ruim? Eles estão demorando.
- Ãaa... não, imagina... Eles já devem estar se preparando
também.
- Tem certeza, Mateus? Você não me convenceu. Eu percebi que
vocês estavam todos tensos.
O garoto pareceu entrar em conflito em seus pensamentos.
- Eu não ia te contar, Camila. Mas você vai ficar sabendo
mesmo. Está vendo aquela garota ali do outro lado? – Mateus apontou para uma
garota muito bonita.
- Estou.
- Ela é a Débora.
Agora ela se lembrava. Aquela garota bonita era a dona da
voz que atormentou o sono de Camila. A que chamara Ronaldo de amor.