11 de março de 2013

Bem mais do que eu quis - Parte IV

Gente, mil desculpas pelo sumiço! Minha rotina tá meio corrida e acabou atrasando a continuação do conto e todos os outros posts. :\



Depois daquela cena desconcertante e do silêncio que se seguiu, Camila não via a hora de voltar para seu quarto. 
- Bom... acho que já estou satisfeito. – disse Rodolfo levantando-se. Mal havia tocado sua comida. – Vou deitar. Boa noite, Camila. 
- Boa noite, tio. 
Dava para ver a decepção nos olhos dele. 
Dois minutos depois Camila e tia Lúcia terminaram a refeição. Apesar de Lúcia insistir, Camila a ajudou com a louça. Enquanto a garota secava percebeu algo que partiu mais ainda o seu coração. Mesmo se esforçando para esconder, a garota percebeu sua tia chorar. 
- Tia, não fica triste assim. – Tentou confortar. 
- Ah, minha querida... como eu queria que o Ronaldo tomasse jeito. 
Camila ficara ouvindo os desabafos de tia Lúcia durante meia hora. Quando voltou para o quarto tentou repetir o que fizera antes do jantar. Enfiou-se debaixo das cobertas e ligou seu ipod bem alto. Quando estava quase conseguindo esquecer tudo, a imagem de sua tia voltava a sua mente. De novo e de novo... e de novo. De repente sentiu a necessidade de ajudar aquela família. Foi surgindo um sentimento que gritava dentro dela. 
Sem perceber, já estava batendo em uma das portas da casa de tia Lúcia: a porta do quarto de Ronaldo. Camila foi dominada pela vontade de acabar com o sofrimento de sua tia, foi cegada por seu coração fraco. 
Quando ouviu um barulho dentro do cômodo, o arrependimento começou a bater. Foi novamente assaltada por um sentimento, mas desta vez foi o de correr imediatamente dali. Ouviu-se um barulho de chaves e a maçaneta mexeu. Camila percebeu que já era tarde quando o rosto surpreso de Ronaldo apareceu após abrir a porta. 
- O que.. você quer? – Pela primeira vez, o vira sem palavras. 
As palavras de Camila também fugiram junto com sua coragem. 
- Vai ficar aí parada? – Esbravejou o rapaz. 
- Ãaa... posso entrar? – Camila arriscou, com medo. 
Ronaldo abriu mais a porta e fez menção que ela entrasse. O coração de Camila batia tão rápido que ela teve medo de que ele pudesse ouvir. 
- Desculpa te incomodar, mas eu tenho um assunto meio sério pra tratar com você. – Cada palavra pronunciada pela garota era muito bem planejada previamente. Falar com Ronaldo era como andar em um campo minado. 
- Tá bom, mas fala rápido. Eu tava ocupado. 
A garota arriscou espiar rapidamente o quarto. Seus olhos pararam no computador: uma janela de bate-papo em vídeo estava aberta, mas o cômodo do outro lado da tela estava vazio. 
- É sobre o que aconteceu depois do jantar. – Deu uma pausa para dar uma olhada na expressão do primo: desdém. – Eu fiquei conversando com a tia Lúcia por um tempo e ela me contou que está muito preocupada com você. Eu sei que talvez eu não tenha o direito de... 
- Não tem mesmo! – Mais uma vez Camila se assustou com a voz de Ronaldo que saia como um trovão. 
- Eu considero muito a sua mãe. De todas as minhas tias, é dela que eu mais gosto. Só não quero vê-la sofrendo desse jeito. – A garota começou a contar todo o desabafo que ouviu sair da boca de tia Lúcia enquanto que a expressão de Ronaldo ia derretendo-se devagar. 
Quando Camila terminou, parecia que nunca mais conseguiria falar novamente. Sua garganta estava completamente seca. Ronaldo continuava calado, estático. Camila já não conseguia mais decifrar o que estava acontecendo com o rapaz. 
- Sabe, Camila... – Mais uma vez ela se assustou, mas dessa vez foi com o quanto a voz de Ronaldo estava calma, rouca. Ficou calado por mais um tempo. – Eu também não... 
Ouviu-se uma voz feminina vinda do outro lado do quarto. – Você ainda está ai? 
Ronaldo ficou agitado. Ela pôde ver que ele ficara encabulado. 
- Tudo bem. Era só isso mesmo que eu queria dizer. Boa noite. – Camila disse tudo isso o mais rápido possível. E nessa mesma velocidade, saiu do quarto de Ronaldo. 
Quando chegou em seu próprio quarto, trancou a porta e se jogou novamente na cama. Dessa vez, o que ela queria esquecer era o tom de voz meloso com que aquela garota chamara Ronaldo. Ela o chamara de “amor”.

Munique.